Ele deu várias chicotadas nas coxas da mulher. Ela sangrava e pedia mais.
você sabe que os americanos ficaram com uns problemas com aquilo tudo do Vietnã?
sei que ficaram com vários problemas, mas qual é esse?
eles gozavam quando explodiam a cabeça de um vietnamita.
que jeito difícil de gozar não? ainda mais agora, tem que viajar pra lá.
até que nem. É só sair por aí explodindo cabeças. é. isso é. e as armas? a gente arranja, benzinho.
Ele lambeu-lhe as coxas. Ficou lambuzado de sangue. eu gosto de sangue.
eu gosto de ser sangrada. o que é que você acha do ser humano?
um barato, né, bem?
e se eu te matasse agora?
de que jeito? com várias facadas.
dói? não vai responder aquilo: que só dói se eu começar a rir.
não, benzinho.
Ele foi até a cozinha. Ela sorria. Ele voltou com uma faca dentro de uma bacia de água. Lembrou-se do Polanski: A Faca na Água. Bonito aquele filme. você assistiu A Faca na Água?
não. Eu só assisto filme pornô.
quanto você quer pra levar uma facada?
a sério?
claro.
se eu gozar quero nada não, bem.
Ele deslizava a lâmina da faca na água da bacia. Lembrou-se de um poeta que adora facas. Que cara chato, pô. Inventaram o cara. Nada de emoções, ele vive repetindo, sou um intelectual, só rigor, ele vive repetindo. Deve esporrar dentro de uma tábua de logaritmo. Ou dentro de um dodecaedro. Ou no quadrado da hipotenusa. Na elipse. Na tangente. Deve dormir num colchão de facas. Deve ter o pau quadrado. Êta cabra-macho rigoroso! Chato chato.
resolveu então benzinho? quanto é pra morrer sem gozar?
ah, isso vai ser caro, amor. Nenhuma siririca antes?
não. Assim a seco.
você é louco. não.
E enquanto ela gritava, encolhida debaixo dos lençóis, explodindo em sangue, ele dizia: um punhal só grito, benzinho, sem nenhuma emoção, benzinho. Coisa de cabra-macho rigoroso, benzinho.
Goza, vá.
Algumas pessoas que andavam pela rua tentaram adivinhar de onde vinham os gritos. Mas tudo silenciou de repente. E todos continuaram andando.
goza, vá.
Devo lamber-te a cona, ó celerada
Ou torturar-te o grelo nas delongas e
Devo falar de Deus nas águas rasas
De teus parcos neurônios, ou te lamber
As coxas rúbias, glabras
Ou modorrar quem sabe no fastio
De narrativas tuas sobre amantes teus
O tamanho das piças, o palrar dos panacas
Interjeições monistas (de monos, amada)
Que é o que foram os pulhas das tuas empreitadas.
Para alcançar orgasmos impudentes
Devo fazer que gesto, ó celerada?
Teu verso é teu monturo, Crasso velho.
Porque fétido, é o verso que exala
Impotência e despeito. Fedes da axila ao reto
E há magia nenhuma nos teus dedos.
Se são mundanas minhas falas
Quando estás por perto É porque te sei rude, grosso, crasso
Como o teu nome indica.
Quanto ao tamanho das piças
Deixa-me rir do tamanho da rola
Que tens entre as pernas.
Um riso prolongado, um riso eterno
Eu, atrás de todas as treliças. Imagina-te, Clódia, encontrei uma mulher inimaginável, belíssima. Ela é de Caicó. Jamais pensei que uma caicoense pudesse ter tais atributos. É tudo tão longe, não é? E a gente nem sabe direito onde é Caicó. E se existe. Pois existe e muito! A mulher é inteira existente. Existe em maravilha da cabeça aos pés. Não te preocupes, mas balancei um bocado. É alta, loira, letrada! Conhece literatura de cabo a rabo. O marido, o professor Gutemberg, viajou anteontem para um lugarzinho perto daqui chamado Muiabé. Não deu outra. Já sabes. Mas a mulher tem tamanhas qualidades que fiquei tímido, lasso, brocha e despeitado. E ontem, odiento, mandei-lhe o primeiro poema aí de cima. Pois imagina-te, hoje me respondeu com o aí de baixo. Estou mal. Prostrado. Manda-me algumas palavrinhas. Caicó, meu Deus! Vou comprar hoje mesmo um mapa desse Brasil bandalho. Que surpresas! Que país! Que grelos insolentes e cultivados tão de repente! Eu fedo, Clodinha? Manda-me carícias e um fio do teu pentelho. Ela se chama Líria.
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