terça-feira, 15 de junho de 2021

O que é o realismo mágico?



Realismo mágico ou fantástico é uma classificação atribuída a determinadas obras artísticas, como livros, pinturas e filmes que apresentam uma realidade mágica ou fantástica, devido a uma deformação da realidade capaz de gerar estranheza, nonsense e um clima de mistério. Teve o seu auge no século XX (marcado por duas guerras mundiais), apesar de já existirem obras com tais características no século XVIII e XIX.

Na literatura, livros assim caracterizados foram assinados por autores como Gabriel García Márquez (Cem anos de solidão), Franz Kafka (A metamorfose) e Machado de Assis (Memórias póstumas de Brás Cubas). Na pintura, nomes como Ernst Fuchs, da escola de realismo fantástico de Viena, buscaram retratar esse tipo de realismo em suas obras. Já no cinema, é possível apontar filmes como Asas do desejo, de Wim Wenders, O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher, além de O grande circo místico, de Cacá Diegues.


Não existe consenso entre os pesquisadores sobre quando surgiu o realismo mágico ou fantástico. A maioria deles defende que a sua origem está situada entre os séculos XVIII e XIX. No entanto, foi a partir do século XX que ele se mostrou mais atuante, pois refletia um mundo caracterizado pelo absurdo, pela falta de sentido, pelo vazio existencial e marcado pelo contexto mostrado a seguir.


Exploração imperialista: iniciada no século XIX e amplificada no XX.


Revolução Russa, em 1917.


Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918.


Fascismo italiano, de 1922 a 1943.


Nazismo alemão, de 1933 a 1945.


Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945.


Holocausto: genocídio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial.


Bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.


Guerra Fria, de 1947 a 1991.



Principais características

O termo “realismo mágico” foi muito discutido nos anos 1940 e 1950, com o intuito de caracterizar obras onde a realidade era mostrada de forma mágica, fantástica, em oposição a um realismo científico. Esse realismo mágico ou fantástico, portanto, é caracterizado por uma forma estranha de conceber o real, ou mesmo uma deformação da realidade. 
O termo surgiu em 1925, quando o crítico de arte alemão Franz Roh (1890-1965) pretendia caracterizar a pintura pós-expressionista.
O realismo mágico ou fantástico gera estranheza nos leitores ou receptores.

Nessa perspectiva, alguns críticos buscaram diferenciar o realismo mágico ou fantástico do chamado “realismo maravilhoso”, que está associado ao incomum, ao extraordinário, mas sem o estranhamento dos personagens diante da realidade maravilhosa, algo muito associado à cultura latino-americana. 
No realismo mágico ou fantástico, tudo não passa de uma criação; já no realismo maravilhoso, há uma representação do “maravilhoso” presente na realidade; portanto, o “maravilhoso” é expresso com naturalidade, como é possível observar nas lendas indígenas, por exemplo.

Contudo, é comum englobar, em uma mesma categoria, o realismo maravilhoso e o realismo mágico ou fantástico, que, de forma geral, apresenta as seguintes características:


Nonsense: falta de sentido;


Surrealidade ou suprarrealidade: situação absurda;


Irracionalismo ou ilogismo: fatos que contrariam as leis naturais;


Presença do sobrenatural: acontecimentos sem explicação;


Capacidade de provocar estranhamento nos leitores ou receptores;


Vínculo com o mistério, o desconhecido.

Isso é o que podemos ver neste trecho do conto O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião:


A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e não conseguem articular uma palavra.

Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente.



Autores realismo mágigo o fantástico

Edgar Allan Poe (1809-1849): americano;
Gabriel García Márquez (1927-2014): colombiano;
Isabel Allende: chilena;
Jorge Luis Borges (1899-1986): argentino;
Oscar Wilde (1854-1900): irlandês;
Franz Kafka (1883-1924): tcheco;
Alejo Carpentier (1904-1980): cubano;
Bram Stoker (1847-1912): irlandês;
Julio Cortázar (1914-1984): argentino;
Lewis Carroll (1832-1898): britânico;
Horacio Quiroga (1878-1937): uruguaio;
Milan Kundera: tcheco;
Italo Calvino (1923-1985): italiano;
Manuel Scorza (1928-1983): peruano;
Reinaldo Arenas (1943-1990): cubano.

Obras mais importantes

Histórias extraordinárias (1833-1845), de Edgar Allan Poe;
Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez;
A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende;
“O outro”, da obra O livro de areia (1975), de Jorge Luis Borges;
O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde;
A metamorfose (1915), de Franz Kafka;
O reino deste mundo (1949), de Alejo Carpentier;
Drácula (1897), de Bram Stoker;
“Continuidade dos parques”, do livro Final do jogo (1956), de Julio Cortázar;
Alice no país das maravilhas (1865), de Lewis Carroll;
Contos da selva (1918), de Horacio Quiroga;
O livro do riso e do esquecimento (1979), de Milan Kundera;
As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino;
Garabombo, o invisível (1972), de Manuel Scorza;
O mundo alucinante (1966), de Reinaldo Arenas.


Realismo fantástico no Brasil

Alguns escritores brasileiros utilizaram o realismo fantástico em suas obras:


A luneta mágica (1869), de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882);
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis (1839-1908);
Macunaíma (1928), de Mário de Andrade (1893-1945);
O agressor (1943), de Rosário Fusco (1910-1977);
Dona flor e seus dois maridos (1966), de Jorge Amado (1912-2001);
A hora dos ruminantes (1966), de José J. Veiga (1915-1999);
Incidente em Antares (1971), de Erico Verissimo (1905-1975);
O coronel e o lobisomem (1974), de José Cândido de Carvalho (1914-1989).

Contudo, Murilo Rubião (1916-1991) é o principal representante da literatura fantástica brasileira. São trabalhos de sua autoria:


O ex-mágico (1947);
A estrela vermelha (1953);
Os dragões e outros contos (1965);
O pirotécnico Zacarias (1974);
O convidado (1974);
A casa do girassol vermelho (1978);
O homem do boné cinzento e outras histórias (1990).



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